Words Challenge 2021 - Perda de Memória

Olá amores,

Os challenges 2021 estão acabando, mas os clichês continuam! Hoje, o clássico perda de memória vai ser invertido por aqui. Espero que gostem da minha releitura e as palavras pré determinadas para o texto foram: escuro, arranhão, protuberante, morango, pedido. Lembrem-se que temos o clichê da Pâm também no Interrupted Dreamer! Deixem seus comentários!


Words Challenge 2021 - Perda de Memória

"Passo a mão por seus cabelos. O que fizemos na noite passada não deveria ter acontecido, não posso lhe dar esperanças, mas o desejo e atração foram mais fortes do que meu autocontrole. Não sei que horas são, mas ainda está escuro lá fora. Dou um suspiro derrotado e ela se mexe abrindo os olhos sonolentos:

- Oi estranho. 
- Oi estranha. Pode voltar a dormir, ainda está de madrugada.

Essa se tornou uma brincadeira nossa, após eu acordar de um acidente de carro sem lembranças recentes da minha vida. Os médicos dizem que a tendência é as informações voltarem aos poucos e estou me apegando a isso para manter a sanidade. Estou me apegando nesses olhos castanhos que estão presos aos meus. Olhos da minha esposa.

Confesso que ainda sinto um gosto amargo só de pensar que sou casado. Não que ela seja o problema. Denise é perfeita. O tipo de mulher que eu gostaria que acordasse comigo todos dos dias, porém... Eu não me lembro. Não lembro de conhecê-la, não lembro do pedido de casamento, não lembro de amar essa mulher. 

- Você está fazendo de novo, Max.
- Oh, desculpe. É só mais forte que eu, os pensamentos só surgem.
- Eu não posso imaginar como você está se sentindo, querido. Mas quero que saiba que é difícil para mim também. Descobrir que não sou nada para você é... complicado, por falta de uma palavra melhor. 
- Você não é 'nada', Denise. Sinto essa nossa atração e sei que com o tempo voltaremos a ser como antes.
- Estou dando o meu melhor, Max. Só que você me olhar com esse arrependimento e usar palavras como 'atração' e 'tempo' não é exatamente um sonho de princesa.
- Desculpe. - estou envergonhado. Não queria fazê-la se sentir assim.
- Desculpe também, vou tentar ser mais paciente, é só que muita coisa está acontecendo no momento.
- Muita coisa? Um marido com amnésia e um paraíso ao redor me parecem problemas simples de resolver. - Dou um pequeno sorriso e começo a fazer pequenos círculos na pele de seus braços, sinto-a arrepiar. O cobertor sob meu corpo fica protuberante. Droga. Ela tem poder sobre mim.

Denise olha para baixo e sorri. Meu estômago se revira. Viemos para este chalé isolado nas montanhas para tentarmos relembrar nossa curta lua de mel. Ela decorou tudo com velas, morangos e champagne. No início, admito que fiquei incomodado, era eu quem tinha que fazer isso para ela, não ela para mim, porém seu esforço para tudo isso funcionar deu certo. Foi como subir um degrau em busca da direção certa. Aqui, eu a beijei pela primeira vez após o acidente e cá estamos nós, no tapete da sala em frente a lareira.

Sinto os músculos dela relaxarem com meu toque e me aproximo para um beijo roubado. Doce e cheio de saudade. Com esperança.

- Max.

Ela me interrompe quando eu tento descer meus lábios para seu pescoço.

- Hum. - é o único murmurinho que consigo. 
- Preciso te contar uma coisa.

Essas palavras me afastam. Estou cansado de revelações. Só queria um momento de paz para me perder nessa mulher. Claro que não é isso que faço, simplesmente levanto meu rosto para mirá-la de perto. Sinto-a tomando fôlego e como por hábito, passo meu dedo indicador pelo seu nariz.

- Você sempre fazia isso. 
- Quero me lembrar, Denise. Estou me esforçando para isso.
- Eu sei, querido. É só que... Não sei qual o melhor momento para te contar isso, eu só...
- Diga. Estamos juntos nessa. Eu aguento. - não, eu não iria aguentar, mas a ansiedade me consumia por dentro.
- Eu sei porque você estava dirigindo com pressa aquela noite. Na noite do acidente, quero dizer. 

Com suavidade ela toca o arranhão na minha testa que está quase cicatrizado. Há um mês mais ou menos, sofri um grave acidente de carro. Estava chovendo muito e pelo sentido da estrada em que estava, eu me afastava de casa em direção ao centro. Denise nunca quis explicar para ninguém o porquê, no meio da noite, eu deixei-lhe sozinha. Nunca quis, até agora. Ela iria me contar a verdade.

- Conte-me. Nada vai mudar entre nós.
- Vai mudar, Max. Não tem como não mudar. Eu só queria que você tivesse mais paciência. Por favor, não pense que eu...
- Não vou pensar nada, estranha. Estamos juntos nessa, me conta.
- Eu estou grávida, Max. Você ficou um pouco... surpreso com a notícia e me pediu um tempo para pensar sobre o assunto.

Como um balde de água fria na cabeça. O ar me faltou, minhas mãos tremeram. Todas as memórias voltando a mente com uma rapidez impressionante. Cubro os olhos enquanto arfo e as lágrimas escorrerem.

- Max. Querido, eu sinto muito, sei que tínhamos planos e...
- Denise. Eu. Eu. Eu. 

Não era um pedido de desculpas, não era uma frase. Era simplesmente EU. Eu fiz a besteira. Eu não aguentei a pressão. Eu deixe-lhe sozinha. Denise começa a chorar, mas ao mesmo tempo limpa meu rosto com suas pequenas mãos. Eu não suporto mais. Toda aquela pose se macho alfa cai por terra. Estou envergonhado, estou chocado com o quanto eu sou um idiota.

- Eu não os mereço, Denise. Nem você, nem esse bebê.

É tudo o que consigo dizer no momento. O desespero me atinge. A vergonha é forte demais. E eu só quero voltar para dois minutos atrás quando a ignorância era uma benção. 

Minha esposa se acalma primeiro e como se tivesse toda a certeza do mundo, me dá o que eu não acreditava ser possível: uma segunda chance.

- Não merecia mesmo, Max. Você foi um babaca cretino e teve as consequências de seus atos. Só que eu ainda estou aqui. Por isso, vou te perguntar novamente e quero sinceridade, preciso da sua sinceridade para poder tomar minhas próprias decisões. Você está disposto a enfrentar esse desafio comigo? 

Eu estou? Há um mês eu não estava. Hoje, estou? Denise espera minha resposta com uma expressão de força e segurança. Como eu tive coragem de magoá-la? Meu Deus! Como em um mês tantos sentimentos mudaram? Eu me sento mais ereto e ela me acompanha como se nossos corpos estivessem interligados. Era assim com a gente. Sempre fora e sempre seria.

- Estou pronto, estranha." 





- Alessandra Salvia

Comentários

  1. Olá, Ale.
    Acho que esse foi o texto mais comprido até agora. E mais uma vez você surpreendendo com tanto sentimentos em tão poucas linhas. Adorei. E já falei para a Pâm e vou falar para você também. Só acho que vocês poderiam escrever um livro juntas, daria super certo hehe.

    Prefácio

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    Respostas
    1. Foi mesmo, Sil! E esse mês teremos um texto extra, então estou animada para compartilhar com vocÊ!

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  2. Oi, Alessandra. Como vai? Uau que texto incrível. Concordo com o comentário da Sil. Você e a Pâmela escrevem super bem. Parabéns para vocês duas. Um abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  3. Oiiii,
    Gostei muito do seu texto!
    Sei que já falei isso, mas escreva mais e poste mais.
    Algumas palavras escolhidas são difíceis e fico pensando em como encaixa-las.
    Parabéns!
    Bjo

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